Responsabilidade Civil por Falha nas Operações e Informações Financeiras

Falha nas Operações

12/12/20253 min read

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Responsabilidade Civil por Falha nas Operações e Informações Financeiras

A responsabilidade civil por falhas informacionais no mercado de capitais é um tema central para a proteção dos investidores e o bom funcionamento do mercado. A análise dessa responsabilidade baseia-se, principalmente, nas Leis nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações) e nº 6.385/1976 (Lei do Mercado de Valores Mobiliários).

A seguir, apresento uma análise detalhada sobre o tema, com base na legislação e na jurisprudência.

1. Fundamentos da Responsabilidade Civil Informacional

A responsabilidade civil no mercado de capitais deriva do dever de informar, que é imposto às companhias abertas e seus administradores. A falha nesse dever, seja por omissão, insuficiência ou má qualidade da informação prestada, pode gerar perdas para os investidores, configurando o ato ilícito e o consequente dever de indenizar.

Os pilares legais para essa responsabilidade são:

  • Lei nº 6.404/1976 (Lei das S.A.): Em seu artigo 157, estabelece o dever de administradores de companhias abertas de divulgar imediatamente qualquer fato relevante que possa influir na decisão dos investidores de negociar valores mobiliários da companhia.

  • Lei nº 6.385/1976: Estrutura o mercado de capitais e cria a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), conferindo a ela o poder de fiscalizar e regulamentar a divulgação de informações.

2. A Atuação da CVM e a Responsabilização de Administradores

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desempenha um papel crucial na apuração e punição de falhas informacionais. Os processos administrativos sancionadores instaurados pela autarquia são uma fonte importante de precedentes sobre o tema.

A jurisprudência administrativa da CVM demonstra rigor na apuração da responsabilidade de administradores, especialmente do Diretor de Relações com Investidores (DRI), por violações ao dever de informar.

CVM — 19957.009010/2021-72 — Publicado em 2025

Apura a responsabilidade de Diretor de Relações com Investidores por irregularidades na divulgação de Fato Relevante, em infração ao art. 157, § 4º, da Lei 6.404/76. O caso resultou na aplicação de multa e advertência, evidenciando a responsabilização pessoal do administrador pela falha informacional.

CVM — 19957.009294/2017-11 — Publicado em 2025

Analisa a responsabilidade do diretor de relações com investidores por infração ao art. 157, § 4º, da Lei nº 6.404/1976, e também de membros do conselho de administração e acionistas por outras violações, resultando na aplicação de multas.

CVM — 19957.002247/2020-41 — Publicado em 2025

Apura a responsabilidade de administradores por violação aos deveres de lealdade e de informação (arts. 155 e 157 da Lei nº 6.404/76), combinados com as normas da CVM, reforçando a obrigação de transparência.

3. A Visão dos Tribunais sobre a Responsabilidade Civil

No âmbito do Poder Judiciário, a responsabilização civil por falhas informacionais exige que o investidor demonstre o ato ilícito (a falha informacional), o dano (prejuízo financeiro) e o nexo de causalidade entre eles.

Os tribunais analisam se a informação omitida ou mal divulgada era, de fato, essencial para a tomada de decisão do investidor.

TJ-PE — APELAÇÃO CÍVEL 2833020168172001 — Publicado em 2025

Neste caso, o tribunal entendeu que não houve responsabilidade civil por parte das instituições financeiras, pois os atos societários (grupamento de ações) foram amplamente divulgados conforme a Lei nº 6.404/76, não se comprovando a alegada omissão informacional. A decisão destaca a importância da prova da falha para a configuração da responsabilidade.

TJ-MG — Apelação Cível 50031301520248130395 — Publicado em 24/11/2025

O TJ-MG decidiu que a corretora de investimentos não responde por prejuízos do investidor quando atua nos termos do contrato. A ausência de comprovação de omissão informacional ou descumprimento contratual afastou a responsabilidade, atribuindo o prejuízo ao risco inerente ao investimento.

4. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC)

Em certas situações, a relação entre o investidor e a instituição financeira pode ser considerada uma relação de consumo, atraindo a aplicação do CDC. Isso é particularmente relevante quando se trata de investidores não profissionais.

TJ-SP — Apelação Cível 10717754920238260100 São Paulo — Publicado em 08/10/2024

O TJ-SP reconheceu a aplicabilidade do CDC em um caso de investimento em fundo, estabelecendo a responsabilidade solidária e objetiva das instituições que participaram da cadeia de consumo, devido à má prestação de serviços que resultou em perdas para o investidor.

Conclusão

A responsabilidade civil por falhas informacionais no mercado de capitais é um mecanismo fundamental de proteção ao investidor. Ela se fundamenta no dever de transparência imposto pela Lei das S.A. e pela Lei do Mercado de Valores Mobiliários. A CVM atua ativamente na fiscalização e punição de administradores, enquanto o Poder Judiciário analisa os casos concretos para determinar a existência de ato ilícito, dano e nexo causal.